Esse aspecto indica um vigoroso fluxo de energia entre as dimensões de vida simbolizadas pelos planetas envolvidos, porém a pessoa pode sentir que a experiência dessas energias é compulsiva demais ou constantemente incômoda, como um problema com o qual tem que se lidar, mas cuja solução continuamente escapa, por não haver um confronto mais objetivo e consciente do problema, pois envolve signos que, além de serem de elementos desarmônicos, também são de modalidades diferentes: p/ex: um quincunce entre planetas em Câncer e Aquário envolve água cardeal e ar fixo, potencialmente uma combinação de emoção variável e sociabilidade com emoção. Aspecto que se baseia na divisão do círculo por doze, antigamente avaliado como um aspecto menor, passando a ser considerado bastante difícil. Porque? O problema é o fato de que este aspecto une pontos situados em signos que não tem nenhuma relação recíproca, combinando a natureza passiva dos trígono com a tensão e sentimento de incomodação associada à quadratura, ou seja, representa a conexão entre energias que não tem conexão lógica. Algo como de repente nos depararmos com a necessidade de realizar determinada tarefa para a qual ainda não estamos física ou psicologicamente preparados e, portanto, a situação requer um ajuste, ou seja, é a necessidade de substituir aquilo que não possuímos ou não desenvolvemos por algo que, provisória ou permanentemente, consiga desempenhar a tarefa, algo como o mimetismo dos animais onde é preciso usar a mente e o corpo em uníssono para conseguir um resultado prático.
A origem desse aspecto é bastante interessante por revelar muito sobre a forma como tem sido interpretado: tomando Áries e a primeira casa como ponto de partida, veremos que o quincunce se forma em Virgem (sexta casa) – aperfeiçoamento, e em Escorpião (oitava casa) – transformações, ou seja, casas que representam domínios da vida um tanto difícil e ambíguos, nas quais a maioria das pessoas encontra dificuldades. Porém, não são aquelas dificuldades agudas ou radicais, como a quadratura ou a oposição, mas aquelas corriqueiras, triviais e, entremeadas na vida cotidiana, para as quais parece não haver necessidades de muitas mudanças. O quincunce nos exige um equilíbrio entre o desejo e o que é realizável, entre o ideal e o real, mas o difícil é justamente saber o que se deseja já que os inconjuntos são mais subjetivos que a oposição e mais objetivos que a conjunção. A tendência desse aspecto é criar dificuldades frustrantes, situações de discórdia e uma sensação geral de dissonância, simbolizando uma área da vida que precisa ser regenerada por meio do esforço. Então, o desafio é ser realista, amadurecer e transformar-se, reagir ao caminho mais fácil do hábito, do comportamento automático evitando assim problemas de saúde ou trabalho, limitação de coisas práticas, sensação de inadequação e rejeição nos relacionamentos.
Porém, não basta ser prático e objetivo, é preciso remexer nas emoções – mergulhar em situações tais que precise lidar com elas para se sentir vivo e atuante. Assim podemos pensar mais nitidamente a questão do vínculo do quincunce com Escorpião e a casa oito, muito mais ligado à vida do que à morte tradicionalmente associada a esta casa. Um termo mais apropriado para este processo seria revitalização ou uma nova injeção de vida.O aspecto de quincunce é sempre criativo em sua manifestação, pois não se trata simplesmente de um processo técnico de ajuste, de adaptação, mas de uma manifestação da vida onde parecia não haver meios dela existir, possibilitando uma abordagem sutil a essas áreas da vida, em vez de forçar uma solução. Um dilema típico deste aspecto é a opção forçada entre duas situações, por exemplo, uma estrada com uma bifurcação, que exige optar por uma e excluir a outra. Resulta, que quando tentamos fazer a escolha, não deliberamos sobre a alternativa que temos que renunciar, ou seja, não podemos percorrer as duas alternativas para saber qual a melhor. Assim se pensarmos na natureza da energia dos pontos e planetas envolvidos no quincunce, a sensação é que estamos diante de uma situação de não-relação, de inconjunto (outro nome dado ao quincunce) – dois entes completamente diferentes, a ponto de que nem sequer brigam entre si, simplesmente cada uma funciona como se o outro não existisse.
O discernimento é fundamental, já que a solução para estas tensões é tornar conscientes as dificuldades e desapegar-se emocionalmente delas de maneira a vê-las com clareza e fazer o que é necessário para altera-las. O que não é fácil pois os efeitos negativos são tão sutis e estão tão imiscuídos na estrutura de nosso próprio ser que não nos deixam ver com clareza e distinção o que acontece. Em outras palavras, ou sabemos negociar, avaliar as situações de impasse e evita-las, nos abrir às mudanças; ou então, optar pela neurose, insatisfação, queixas, frustrações, doenças e ressentimentos.
Observando esse aspecto sob o ponto de vista dos planetas regentes teremos mercúrio e plutão, sendo mercúrio a chave para compreendermos o quincunce pela conotação Virgem/sexta casa. Porém, vemos que o planeta Vênus atua informalmente sobre esse aspecto, pois se exalta em Peixes (signo oposto a Virgem), rege Touro (signo oposto a Escorpião) e rege o signo de Libra (signo oposto a Áries), mostrando que esse aspecto tem uma carência no que se refere aos sentimentos, pela ação adversa com Vênus. Portanto, podemos utilizar o arquétipo desse aspecto em nossos mapas como ponto de partida para compreender nossos sentimentos; onde, quando e como a falta de amor nos afeta, nos confunde e nos lança incompreensão. O quincunce crescente (anterior à oposição/150º) pode ser considerado de natureza corretiva (Virgem/6ª casa), ou seja, impulsiona a pessoa a se doar mais ao trabalho e empenhar-se a atingir uma saúde perfeita com praticidade. O quincunce decrescente (posterior à oposição/210º), de natureza regenerativa (Escorpião/8ª casa), a pessoa sente mais a necessidade em administrar melhor o trabalho já efetuado anteriormente e buscar se regenerar de possíveis perdas e danos.
A figura geométrica associada a esse aspecto, o dodecaedro, representa todo o zodíaco; une todos os elementos do mapa, todos os ritmos e triplicidades – é o aspecto da unidade pela junção dos elementos da multiplicidade, tal um quebra-cabeça. Além disso, outro aspecto interessante e mágico do quincunce: como a casa oito é oposta a casa dois e esta última se refere aos cinco sentidos, podemos pensar que a percepção objetiva sofre alterações que permitem o uso das faculdades psíquicas com maior freqüência, ou seja, abre-se à percepção para aspectos intuitivos, sensações sutis talvez relacionadas a partes do corpo ativadas por tais percepções – esse “saber” não objetivo é uma expansão do campo de consciência provocada pela necessidade inconsciente de retornar à condição primordial de união com a totalidade da natureza, a quinta-essência... Por exemplo: quincunces que envolvem Saturno vão, de uma forma ou de outra, vincular-se ao sentido da audição, assim como os trabalhos de cura magnética como tato psíquico (alguns não precisam nem tocar, pois as vibrações emanam com tal potência que viajam do corpo do emissor para o receptor mesmo à distância).
Enfim, o quincunce nos mostra a realidade da vida, o inexorável – a dificuldade é o cotidiano e a superação do cotidiano (sexta casa/Virgem); a questão da casa oito/Escorpião é a capacidade de manter o sentimento, fixar o sentimento, no sentido da paixão, da intensidade e, portanto do significado.
Ana Rodolphi
Astróloga
Obrigado pelo texto!
ResponderExcluirsim, um dos textos mais esclarecedores que já li sobre inconjuntos!
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