Lua Negra, a Lilith Astronômica
Em primeiro lugar, gostaria de dizer que as colocações que farei aqui, em parte são observações minhas, feitas ao longo dos meus anos de estudos, a respeito deste ponto virtual denominado Lua Negra, mas principalmente das observações apontadas por Clovis Peres, meu professor durante alguns anos, que foram colocadas durante as nossas aulas e nos escritos que ele me transmitiu.
A idéia aqui não é a de esgotar, nem concluir, o assunto da Lua Negra com estas observações, ao contrário, a idéia é justamente expor estas observações, para que a partir disso possamos ampliar as nossas possibilidades de entendimento deste aspecto tão importante e ao mesmo tempo tão complexo.
Essas informações introdutórias tem o intuito de facilitar o entendimento desse aspecto para uma melhor conexão e integração com esta energia.
Essa exposição se ocupará de dois momentos. O primeiro da definição astronômica de Lua Negra e o segundo refere-se a sua representação.
Definição astronômica de Lua Negra, Lilith:
A definição astronômica da Lua Negra, usada pelas efemérides, é a de um marcador dos apogeus lunares, sejam eles médios ou verdadeiros, ou ainda o foco vazio da elipse que também se situa na linha dos apogeus.
A Lua Negra não é um corpo celeste, é um ponto móvel no espaço, que atua como um vórtice de energia, o foco vazio da órbita da Lua em torno da Terra.
A Lua percorre uma trajetória elíptica em torno da Terra. Uma elipse possui dois pontos focais e aquele que fica vazio foi denominado Lua Negra ou Lilith. Na realidade, a Lua e a Terra movem-se ambas ao redor de seu centro comum de gravidade. É preciso destacar que essa trajetória elíptica da Lua não se constitui de uma elipse exata propriamente, deste modo é necessário estabelecer a diferença entre a órbita média da Lua, que é uma elipse levemente alongada, e a órbita real, que oscila ao redor da órbita média devido a diversas interferências.
A Lua Negra descreve o ciclo dos Apogeus e Perigeus lunares, ou seja, isso corresponde à menor e à maior proximidade da Lua e da Terra, efeitos da atração gravitacional que a Terra exerce sobre a Lua.
Nos Apogeus a Lua atinge a maior distância possível da Terra, sua maior lentidão nesse momento é devido à composição da sua velocidade de escape com a força gravitacional que a Terra exerce sobre ela. Nos Perigeus, ao contrário, a Lua chega à menor distância possível da Terra. Assim, a Lua Negra, nas Efemérides, registra o ciclo dos Apogeus lunares, que é quando ocorre o maior distanciamento da Lua em relação à terra.
Este ponto astronômico denominado Lilith, Lua Negra, foi descoberto pelo astrólogo francês Don Néroman, no final do século XIX. Eu gostaria de enfatizar que este trabalho se refere à Lua Negra, Lilith astronômica, que é um ponto virtual, e não ao asteróide Lilith 1181
Se a Lua Negra ocupa um foco e a Terra outro da elipse, ocorre então uma polarização muito forte. Esses dois focos são pontos necessários para que a elipse exista e este é o caminho da Lua ao redor da Terra
Este entendimento dela nos céus e nos mapas nos leva a refletir sobre as fases lunares: nova, crescente, cheia e minguante, quando elas ocorrem nos Apogeus ou nos Perigeus. Assim, a maior reflexão lunar favorece toda vida e a menor reflexão nem tanto.
Quando as fases lunares ocorrem nos Perigeus, no período em que a Lua, está mais próxima da Terra, ela reflete com maior intensidade a luminosidade do Sol e dos planetas, as marés são turbulentas e o clima é instável e imprevisível. Já nos Apogeus essa reflexão é menos intensa pela maior distância entre a Lua e a Terra, as marés são mansas e o clima tende à tranqüilidade.
Mas o nosso interesse maior deve incidir sobre a composição gravitacional, as forças em jogo e em que sentido essas forças afetam a vida aqui.
A representação da Lua Negra
A Lua Negra é uma função lunar, e podemos definir luz e sombra, atração e repulsão, proximidade e distância, fluxo e refluxo, calor e frio, vazio e excesso.
Está ligada ao grande mistério da encarnação, a essa vontade que nos leva a fazer um ninho e ficar nove meses na escuridão. A Lua Negra leva praticamente 9 anos para completar seu ciclo e 9 meses em cada signo. Atualmente está em aquário.
A Lua Negra nos conecta com o que é da espécie, quando estamos no útero, vivemos aquilo que é da espécie, de toda história da humanidade, do ponto de vista genético. É no útero que vamos captar uma série de sensações, de impressões que não tem imagem.
Durante os nove meses de gestação, o bebê vai viver no escuro, e todas as impressões que ele registra são muito fortes, mas sem referência de imagem para relacionar, ou seja, são sensações extremamente poderosas e que vão atuar durante toda a vida após o nascimento, por isso é que são uma série de referências estranhas e obscuras, imagens fantásticas, porque não temos imagens para associar a essa memória.
Assim, sob essa perspectiva, é a partir do nascimento é que vai haver um encontro entre a mãe e o bebê. Essa relação entre o bebê real e as expectativas da mãe também podem ser observadas nessa relação com a Lua Negra. A expectativa com relação ao sexo do bebê, a forma como a mãe vai lidar com os desejos e as projeções.
Uma importante investigação que podemos fazer é do período que antecede ao nosso nascimento, ou seja, a partir da Lua Negra da concepção, de como foram os nove meses que antecederam ao nosso nascimento.
Durante a gestação, no período em que a lua transita pelo apogeu ela traz para o feto a sensação de refluxo, esvaziamento, sensações estas que seguirão pelo resto da vida, e que exigirão elaboração. Durante aquele período ela está mais lenta, está mais distante. E à medida que aprofundamos as investigações por signo e casa, vamos entender como é esse processo de atração e repulsão, calor e frieza.
A partir do nascimento a Lua Negra tem a capacidade de nos informar acerca das presenças corporais que, de um modo que muitas vezes é paradoxal. Muitas vezes nós nos relacionamos objetivamente bem, mas o corpo contradiz, com desconforto, mal estar.
Assim, a Lua Negra estando ligada à gestação, à gravidez, gravidade, está ligada a todos os processos do planeta em que a gente vive, mas que não vê. E como vamos estabelecer uma relação com aquilo que não vemos, mas que age, e que age de forma obscura, já que ela trabalha nossas reações mais primitivas, as que não chegam a vir ao consciente.
A Lua Negra corresponde às nossas experiências que são registradas sensorialmente, ela é extremamente corporal, revela-se através dos gestos, atitudes corporais, atração e repulsão das quais muitas vezes nem percebemos, mas todo mundo registra e responde
Uma primeira forma de entender como a Lua Negra funciona, seria observando nossos automatismos do ponto de vista do corpo, gestos, posturas, sensações, reações automáticas que têm uma relação direta com este aspecto.
Os trânsitos de Lua Negra são momentos em que será possível, e muitas vezes necessário elaborar estas sensações, é quando ela traz a possibilidade de elaborar imagens.
A Lua significa nossa socialização, ou seja, quando começamos a ter a percepção do ambiente, com luz, quando abrimos os olhos e nos deparamos com o ambiente que nos cerca.
A Lua Negra já foi, você já aprendeu tudo antes. Pelo simbolismo, durante nove meses estamos no útero e aí aprendemos tudo que tínhamos para aprender em termos de Lua Negra. Quando nascemos, durante algum tempo não percebemos nada, mal se consegue enxergar. Todo este período, porém você percebe fisicamente é sensorial.
A lua negra está relacionada à força que nos faz encarnar e os nossos mecanismos de sedução, atração e repulsão.
Na Lua Negra podemos entender o nosso processo de encarnação, nascimento, e a forma como vamos nos manter encarnados. Este processo inicia no útero, mas vamos continuar a buscar formas de nos manter encarnados, essa busca, esse instinto de preservação está relacionado a ela.
O tanto de energia que dispomos para nos manter, e a forma como lidamos com essa busca, também está associado à Lua Negra. Nosso instinto de sobrevivência, nossa força básica, tudo isso podemos verificar na forma como vamos lidar com ela.
Ela nos conecta aquilo que somos, no sentido mais básico, primitivo. A partir daí podemos entender que a Lua Negra está ligada ao corpo, o nosso corpo, e tem a ver com as sensações físicas, fluxo e refluxo, e a interpretação que damos para estas sensações.
A Lua Negra tem a ver com a gravidade, com o peso e com as variações, tem relação com o balanço de atração e repulsão entre a Terra e a Lua.
Ela é a necessidade de se analisar o movimento do corpo à distância, é uma questão corporal e inconsciente. E por ser uma relação com o corpo, com a memória do corpo, por se constituir de impressões que não possuem imagens como referência, é que ela nos exige muito mais cuidados e atenção, pois à medida que vamos elaborando estas impressões no decorrer da vida, entramos em contato com essa energia e muitas vezes criamos para essas impressões, uma imagem muito poderosa, mas muitas vezes também obscura e aterrorizante.
Esses nove meses antes do nascimento, de se tornar um embrião, no período de desenvolvimento na barriga da mãe, se estende por toda vida, a nossa capacidade de se preservar na vida, de se agarrar com unhas e dentes, com todo princípio de informação, todo processo de adquirir uma forma é dela.
A Lua Negra é uma hiper sensibilidade ao ambiente e essa hiper sensibilidade está ligada ao fato de que estando no útero, no escuro, todos os movimentos dos líquidos, as variações neste ambiente, serão extremamente poderosas, um registro que remete a figura da Lilith e as experiências entorno de elementos arquetípicos que são ligados a Lilith, em contextos diversos, em culturas diversas e épocas diversas.
A referência a essas imagens fantásticas, está relacionada a essa hipersensibilidade do período intra-uterino, ao escuro, a essas variações, o refluxo que ocorre enquanto a Lua está no apogeu, o que pode ser aterrorizante. E que se constitui como aterrorizante na primeira infância, e vai formar um registro, um registro mítico daquilo que é aterrorizante pra ele, e que depois vai se tornar aterrorizante no contexto coletivo, e vai se refletir na imagem que se tem da Lilith.
Sob a perspectiva coletiva, esse registro mítico da Lua Negra - Lilith relaciona-se com tudo que foi atribuído a mulher, no aspecto sombrio, à sexualidade relegada à sombra, à sensualidade, às experiências com o corpo e que não são compreendidas, tem a ver com a gestação, e também com a negação de uma gestação, com tudo que refere-se a uma gestação, com tudo que circula os ciclos femininos, com as experiências dolorosas que estão ligadas a esses processos, e com o poder que também está ligado a esse processo, e que geraram estes registros míticos.
Fabiana Pizetta
Astróloga.